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Ministério da Economia analisa faixa de isenção para dividendos

Palácio do Planalto solicita mudanças e aumento na faixa de isenção do IRPF de R$ 1,9 mil para algo em torno de R$ 2,3 a R$ 2,4 mil

O Ministério da Economia avalia a possibilidade de estabelecer uma faixa de isenção para a tributação sobre dividendos, que a reforma do Imposto de Renda das empresas e pessoas físicas deve trazer. O Planalto fez outros pedidos para a pasta e tem negociado algumas mudanças no projeto original da Economia. O texto já está sendo discutido com lideranças do Congresso Nacional, o que tem levado a algum atraso no envio da proposta, ainda que nunca tenha sido definido um prazo preciso.

Há alas no governo defendendo uma elevação para algo mais próximo dos R$ 3 mil que o presidente Jair Bolsonaro chegou a prometer na campanha, mas outros interlocutores consideram esse valor inviável.
Um interlocutor lembra que, indo para R$ 2,4 mil, o aumento no universo de pessoas isentas do IRPF cresceria cerca de 50% em relação ao total atual. Outro interlocutor destaca que levar a faixa de isenção para R$ 3 mil implicaria em um custo adicional de R$ 30 bilhões, desequilibrando as contas do governo e colocando o risco de se passar uma percepção de populismo.
Duas fontes disseram ao Valor que no Planalto haveria resistência também à ideia de rever algumas isenções, como a de produtos financeiros (LCA, LCI, fundos exclusivos), que compensariam o reajuste nas faixas de renda do IRPF e ajudaria que o conjunto do texto ficasse equilibrado. Uma das preocupações seria com o financiamento do setor agrícola. Outra, o caráter impopular da medida junto à classe média.

No entanto, uma fonte da Economia disse que Guedes estaria conseguindo debelar essa preocupação. Do contrário, será praticamente inviável elevar a faixa de isenção do IRPF. Alternativas como reduzir deduções na declaração estão fora do cardápio, assim como o Imposto sobre Transação. Depois de ter visto o debate ser interditado por Bolsonaro várias vezes, Guedes desistiu de insistir nessa tese. Mas há no seu entorno quem considere que o instrumento poderá voltar à pauta não pelas mãos do ministro, e sim pelo próprio andamento das discussões.
Na última sexta-feira, o ministro da Economia sinalizou a empresários industriais que estava próximo de mandar a proposta e já tinha inclusive dado a alguns políticos conhecimento de detalhes do texto. Reiterou a visão de que se pretende reduzir o Imposto de Renda das empresas em 5 pontos percentuais, compensando com a taxação de dividendos e também revendo alguns benefícios, como a distribuição de juros sobre capital próprio.
Em simultâneo, os técnicos do governo estão discutindo com o Senado o andamento do projeto de Refis, apresentado pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
A equipe econômica quer limitar o alcance do Refis, transformando o projeto em uma grande transação tributária. O novo texto conteria também uma medida para dar fôlego de caixa para as empresas do Simples: a moratória tributária, um instrumento previsto no Código Tributário Nacional e usado em situações de calamidade.
Nessa moratória, as empresas do Simples poderiam suspender o pagamento de todos os tributos envolvidos no programa, o que contempla também os estaduais e os municipais. A dívida acumulada desses impostos não pagos poderia ser renegociada, por um prazo flexível conforme o faturamento. A empresa recolheria 0,3% de sua receita bruta a cada mês. Esse esquema teria a vantagem de acompanhar os ciclos econômicos. A desvantagem é que, dessa forma, a dívida poderá ser financiada por prazos muito longos.

A ideia consta do Projeto de Lei 3.566, apresentado pelo deputado André de Paula (PSD-PE) no ano passado. O texto está desatualizado, pois previa a suspensão dos pagamentos entre 1º de abril e 30 de setembro de 2020. A dívida poderia ser quitada até o dia 31 de janeiro de 2021 ou parcelada. Mas o mecanismo despertou o interesse do Ministério da Economia, que o examina num contexto de elaboração de medidas para dar fôlego financeiro a micro e pequenas empresas na retomada pós-pandemia. Seria uma alternativa a operações de crédito.
Uma fonte explica que a ideia é tentar deixar no texto do relator Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que também é líder do governo, uma espécie de cardápio para as empresas optarem pela solução que lhes daria a melhor situação para retomar e expandir suas atividades.

Fonte: Valor Econômico

Associação Paulista de Estudos Tributários

Matéria originalmente publicada em Apet, por Fabio Graner e Lu Aiko Otta.